Após a repercussão da denúncia feita pelo portal Real Time 1, que revelou o pagamento de mais de R$ 6,4 milhões da Secretaria Municipal de Comunicação (SEMCOM) a blogs, sites e portais de notícias com pouca ou nenhuma audiência, o caso pode ganhar novos desdobramentos no Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM).
Fontes ligadas ao TCE informaram ao portal Abutre, que a corte analisa com atenção o conteúdo divulgado e não descarta suspender os pagamentos futuros enquanto a legalidade e os critérios dos contratos não forem devidamente esclarecidos. A movimentação nos bastidores aumenta a pressão sobre a Prefeitura de Manaus, especialmente sobre a gestão da secretária de Comunicação, Camila Carvalho, responsável direta pelos contratos.
Investigação pode virar auditoria especial
O escândalo já é considerado um dos mais graves envolvendo recursos da publicidade institucional da capital. A revelação de que portais sem visibilidade digital receberam valores significativos, enquanto veículos com histórico de relevância e credibilidade ficaram em segundo plano, levantou suspeitas de favorecimento político, fura-fila e uso da verba pública como moeda de troca.
Especialistas em direito público e conselheiros técnicos do próprio TCE avaliam que há indícios suficientes para abertura de uma auditoria especial, o que poderia levar à suspensão cautelar dos pagamentos em andamento e à exigência de devolução de valores caso se comprove má gestão dos recursos.
A pergunta que não cala: quais foram os critérios?
A matéria publicada pelo Real Time 1 não apenas apontou os valores, mas questionou a ausência total de critérios técnicos objetivos na distribuição dos contratos. Entre os exemplos citados estão:
.Pagamentos de até R$ 23 mil por três dias de veiculação em sites sem comprovação de audiência;
• Sites como Banzeiro News recebendo mais de R$ 377 mil;
• Blogs sem atualização, com redes sociais abandonadas ou com métricas irrelevantes;
• Portais favorecidos repetidamente, mesmo sem visibilidade orgânica comprovada.
A jornalista responsável pela apuração afirmou que os dados foram retirados exclusivamente do Portal da Transparência da própria Prefeitura, e que a equipe do site gravou todo o processo de consulta e análise, justamente para se precaver de possíveis acusações — como a feita pela SEMCOM, que tentou desqualificar a denúncia alegando “informações falsas”.
TCE pode exigir nova regulamentação para mídia paga
Diante da repercussão, o TCE-AM também poderá recomendar à Prefeitura de Manaus a criação de uma regulamentação clara e pública sobre os critérios para contratação de mídia digital com recursos da comunicação institucional, como:
• Audiência comprovada (SimilarWeb, Google Analytics, etc.);
• Alcance em redes sociais;
• Produção de conteúdo jornalístico original;
• Histórico de atuação regular e transparente;
• Ausência de vínculos com agentes públicos ou políticos contratantes.
Câmara Municipal também pode reagir
Vereadores da oposição já se movimentam para cobrar explicações da secretária Camila Carvalho na Câmara Municipal de Manaus (CMM). Há expectativa de que um requerimento para convocação formal seja apresentado nos próximos dias, o que pode acirrar ainda mais os ânimos entre a base do prefeito David Almeida e os parlamentares insatisfeitos com a falta de transparência.