“Secretário Oculto” de David Almeida que derruba secretários e controla suposto esquema de propina

Manaus- Embora não ocupe nenhum cargo oficialmente registrado na estrutura administrativa da Prefeitura de Manaus, o nome de Jack Serafim ecoa nos bastidores do poder com influência e autoridade dignas de um alto secretário. Fontes internas e ex-integrantes da gestão municipal apontam que Serafim exerce o controle de fato sobre a Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom), operando informalmente como uma espécie de “secretário oculto”.

Conhecido por sua atuação nos bastidores, Jack Serafim foi alçado à cena pública durante a gestão do ex-prefeito Arthur Virgílio Neto, onde foi contratado extraoficialmente para tentar conter a crise de imagem após a morte do engenheiro Flávio dos Santos Rodrigues, crime em que o enteado do então prefeito, Alejandro Valeiko, foi apontado como suspeito.

Serafim teria sido responsável por montar um esquema informal de blindagem midiática da família Valeiko, investindo pesadamente em contratos com a imprensa local e ações de marketing, em um esforço que ficou conhecido dentro da gestão como um “propinoduto de mídia”. No entanto, o plano falhou, e após gastos milionários e pressão da mídia, foi demitido pela então primeira-dama Elizabeth Valeiko.

Influência crescente com David Almeida

Com a eleição de David Almeida (Avante), Jack Serafim voltou a ocupar espaço dentro da Semcom, agora com ainda mais liberdade e influência, mesmo sem nomeação oficial. Logo nos primeiros anos da nova gestão, dois secretários caíram sob fortes suspeitas de articulação interna: Quaresma e Israel Conte.

Fontes ligadas à Prefeitura afirmam que Serafim teria sido o pivô das quedas. No caso de Quaresma, a denúncia é de que aliados de Serafim teriam armado uma situação envolvendo uma mulher infiltrada para seduzir e gravar cenas íntimas do então secretário. O escândalo, ainda que não tenha vindo à tona publicamente na época, levou à saída de Quaresma.

O segundo caso envolveu Israel Conte, que assumiu a pasta logo depois. Conte teria sido responsabilizado por um suposto escândalo de desvio de verbas, mas pessoas próximas afirmam que as decisões mais sensíveis da comunicação, incluindo os contratos e liberações de recursos, continuavam sendo tomadas por Jack Serafim. Conte foi demitido e hoje leva uma vida modesta, longe da vida pública.

A gestão fantoche de Camila Silva

Após as demissões, a jornalista Camila Silva, até então subsecretária, assumiu o comando formal da Semcom. Contudo, relatos de servidores apontam que Camila exerce pouca ou nenhuma autonomia. Jack Serafim continua controlando a máquina de comunicação da Prefeitura, comandando os contratos de publicidade, a relação com a imprensa e influenciadores, além de toda a estratégia de marketing digital da gestão.

“A comunicação virou um bunker. Camila assina, mas quem manda é o Jack”, afirma uma fonte que ainda trabalha na secretaria.

Acusações de caixa 2 e contratos suspeitos

A parte mais sensível das denúncias está relacionada à suposta operação de um esquema de caixa 2 eleitoral. De acordo com informações apuradas, empresas de publicidade ligadas a Serafim, incluindo uma em nome da própria esposa, estariam sendo utilizadas para movimentar recursos de forma paralela ao orçamento oficial. O dinheiro seria usado para alimentar influenciadores aliados, pagar mídia sob demanda e garantir apoio de veículos de comunicação.

Uma das denúncias mais graves é que a esposa de Jack, apontada como sócia de uma empresa envolvida nesses contratos, estaria pagando um curso de medicina particular em Manaus com mensalidades superiores a R$ 12 mil, sem fonte de renda declarada.

Atuação sem transparência

Jack Serafim não possui cargo comissionado, não aparece no Portal da Transparência, não responde a nenhum departamento oficial da Prefeitura e tampouco presta contas à Câmara Municipal. Sua atuação, no entanto, é amplamente reconhecida nos bastidores como a de quem toma as principais decisões da comunicação institucional do município.

Essa situação levanta sérias dúvidas jurídicas sobre legalidade, ética e responsabilidade fiscal. A ausência de nomeação formal, associada ao controle de verbas e influência sobre contratos, pode configurar improbidade administrativa, peculato e crime eleitoral, segundo advogados consultados pela reportagem.

Silêncio institucional

Até o momento, nenhum órgão de controle se manifestou oficialmente sobre o caso. O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), responsáveis por fiscalizar a legalidade dos contratos públicos, não informaram se há investigações em andamento.

Fontes dentro da própria Prefeitura reconhecem a dificuldade de comprovar formalmente a influência de Jack Serafim, justamente porque ele opera nas sombras sem contratos assinados, sem e-mails institucionais, sem registros públicos.

Enquanto não houver investigação oficial, Jack Serafim seguirá atuando como o “homem forte invisível” da Prefeitura de Manaus. Uma figura que transita entre os gabinetes, controla a comunicação e articula alianças, mas sem prestar contas à população. A estrutura paralela que ele comanda representa um risco concreto à transparência e ao bom uso do dinheiro público.

Se confirmadas as suspeitas, Manaus pode estar diante de um dos mais sofisticados esquemas de comunicação oculta já operados na política local.