
Manaus- O Hospital Santa Júlia volta ao centro de um escândalo de grandes proporções após a confirmação oficial da causa da morte do menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, ocorrida dentro da unidade no último sábado, dia 22. A Polícia Civil do Amazonas confirmou que a criança morreu após receber uma overdose de adrenalina aplicada por via intravenosa. A informação foi anunciada nesta sexta-feira, dia 28, pelo delegado Marcelo Martins, responsável pelo inquérito, com base em depoimentos prestados por profissionais de saúde do próprio hospital, que admitiram a administração da medicação acima dos limites recomendados pelo protocolo médico.
A investigação trabalha com a hipótese de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, além de apurar possível negligência, imperícia ou imprudência médica. Também é analisada a responsabilidade técnica da equipe que atendeu a criança e da direção da unidade hospitalar. Até o momento, nenhum laudo interno foi apresentado publicamente pelo hospital, e a instituição limitou-se a informar o afastamento de profissionais envolvidos, sem detalhar quem aplicou a medicação nem quais medidas concretas foram adotadas para evitar novos episódios semelhantes.
O caso da criança ocorre no mesmo período em que o hospital enfrenta questionamentos administrativos graves. O Ministério Público do Amazonas ajuizou ação contra a unidade por descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta relacionado à regularização sanitária. O hospital foi acusado de operar sem licença sanitária válida, mesmo após prazos concedidos para corrigir irregularidades estruturais e administrativas. Para o MP, a situação configura risco direto à saúde pública e pode resultar em sanções mais severas, incluindo multa e interdição de setores.
Não é a primeira vez que o hospital aparece envolvido em denúncias. Há registro de procedimentos anteriores relacionados a falhas no atendimento, omissão em situações de emergência e reclamações formais feitas por familiares de pacientes que alegam falta de transparência após mortes ocorridas na unidade. Denunciantes afirmam que, depois dos óbitos, o hospital não fornece informações claras, evita entregar documentos e não apresenta resultados de sindicâncias internas.
Apesar de manter canais de ouvidoria e denúncia em sua estrutura administrativa, pacientes relatam que não recebem resposta formal, não têm acesso a relatórios conclusivos e não são informados sobre providências adotadas. O sentimento é de abandono institucional e de que apenas a pressão da imprensa gera qualquer manifestação pública da direção do hospital.
A população de Manaus cobra respostas objetivas. Quem aplicou a dose fatal na criança? Havia supervisão médica adequada? A equipe era qualificada e treinada? O hospital cumpre os protocolos clínicos e sanitários exigidos por lei? A unidade está completamente regularizada junto aos órgãos de fiscalização? Quantos casos semelhantes existem sem conhecimento público?
Até agora, nenhuma dessas perguntas foi respondida de forma clara.
A morte de uma criança por overdose dentro de um hospital não é um simples “erro médico”. É uma tragédia que expõe fragilidades profundas em protocolos, gestão e fiscalização. Quando irregularidades sanitárias se somam a falhas clínicas fatais, o problema deixa de ser individual e se torna institucional.
A sociedade não quer justificativas genéricas nem notas frias. Quer responsabilização, transparência e garantias reais de que hospitais não continuarão funcionando como se vidas fossem números.
A pergunta que permanece é direta e incômoda: quantas mortes ainda serão necessárias para que providências definitivas sejam tomadas?


