
A Escola Estadual Dom João de Souza Lima, em Manaus, tornou-se palco de um dos episódios mais tensos e controversos da educação pública no Amazonas em 2025. Professores e servidores denunciam um ambiente de autoritarismo, assédio moral e perseguição sistemática, que estaria provocando o afastamento forçado de docentes e o adoecimento da categoria.
Somente neste ano, pelo menos quatro professores foram removidos de forma considerada arbitrária, segundo denúncias enviadas à reportagem. No início de 2025, outros dez docentes foram devolvidos de suas funções por estarem em licença médica, um ato interpretado pela categoria como desrespeito à legislação trabalhista e às condições de saúde dos servidores.
Como o Portal Abutre já havia noticiado no início do ano, um dos casos mais emblemáticos envolve o professor Jamisson Maia, que durante um processo de remoção precisou ser retirado da escola pela própria polícia — uma cena considerada humilhante e que ganhou repercussão na comunidade escolar.
“Jamisson foi exposto diante de alunos e colegas como se fosse um criminoso, quando, na verdade, era a vítima de uma perseguição”, relatou um colega próximo, sob anonimato.

Além do professor Jamisson, outros professores como as professoras Iolanda, Raquel, e agora a professora Márcia Tavares, estão sofrendo perseguição por parte da direção da Escola Dom João de Souza Lima.
O “processo reverso” de assédio
Professores relatam que, ao denunciarem episódios de assédio moral praticados pela gestão da escola, são surpreendidos com a abertura de sindicâncias que os acusam de assediadores. Essa inversão de papéis, segundo a categoria, busca silenciar e enfraquecer quem se opõe à direção.
“É um processo perverso. O professor denuncia, mas a gestão inverte e transforma a vítima em agressor. Muitos já estão adoecendo com esse ciclo de humilhação e medo”, explicou uma professora que pediu para não ser identificada.
No dia 23 de junho de 2025, um grupo de professores realizou um protesto em frente à escola contra o assédio moral sofrido por Jamisson Maia e exigindo mudanças na gestão. Desde então, vários dos participantes relatam que passaram a ser alvo de novas perseguições, transferências e sindicâncias.
As denúncias contra a gestão da E.E. Dom João de Souza Lima já foram levadas à Ouvidoria da SEDUC-AM e ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM). No entanto, até o momento, nenhuma providência efetiva foi tomada. A omissão do Estado, segundo especialistas em educação, abre brechas para a continuidade das arbitrariedades.
Para o advogado trabalhista consultado pela reportagem, a conduta relatada pode configurar abuso de poder, assédio moral institucional e até improbidade administrativa.
“Quando uma gestão escolar persegue sistematicamente seus docentes, interfere diretamente no processo pedagógico e fere direitos fundamentais. É papel da SEDUC intervir imediatamente para resguardar os professores e a comunidade escolar”, destacou.
Enquanto a gestão escolar acumula denúncias e a SEDUC não se posiciona de forma clara, professores afirmam viver em um clima de medo, insegurança e desgaste emocional. Para muitos, a situação já comprometeu a qualidade do ensino e o vínculo com os alunos.
“Não há como dar aula num ambiente em que você é tratado como inimigo. A escola virou um espaço de intimidação, não de aprendizado”, desabafou uma docente.
O caso da E.E. Dom João de Souza Lima revela um retrato preocupante da educação pública no Amazonas: gestões autoritárias, perseguição contra professores e omissão das autoridades competentes. A continuidade desse cenário ameaça não apenas os direitos dos profissionais de educação, mas também o futuro pedagógico de centenas de alunos.
A comunidade escolar segue aguardando uma resposta concreta da SEDUC-AM e do Ministério Público, enquanto as denúncias se acumulam sem solução.


