Manaus — O recente atendimento médico do prefeito David Almeida (Avante) no Hospital Adventista após relatar ânsia de vômito e mobilizar equipe de cardiologia acendeu novas especulações sobre sua saúde física e emocional. Oficiais negam problemas cardíacos, mas interlocutores políticos e jornalistas veem no episódio uma evidência do excesso de pressão que recai sobre o gestor diante de desafios múltiplos.
Popularidade em queda: recorde de rejeição e insatisfação crescente
A insatisfação com a administração municipal tem se traduzido em dados preocupantes para Almeida. Segundo pesquisa do Instituto Census, divulgada em agosto de 2025, 57% dos entrevistados disseram desaprovar sua gestão, enquanto apenas 33% a aprovam o maior índice de rejeição registrado até agora. 
O levantamento aponta que áreas como infraestrutura, saúde, transporte e serviços públicos concentram os principais motivos do descontentamento popular. 
Em outra frente, o prefeito também já enfrentou críticas relativas à viagem ao Caribe em meio a episódios de alagamento em Manaus, que foram interpretados como demonstrativos de descompasso entre sua agenda pessoal e os problemas urgentes da capital. 
Esses sinais, combinados, reforçam a ideia de que Almeida atravessa um momento de máxima vulnerabilidade política — com desgaste crescente junto ao eleitorado e perda de fôlego para responder ataques.
Investigações em curso: da PF ao Tribunal de Contas
O cenário fica ainda mais delicado quando se consideram as investigações em que David Almeida e sua gestão estão envolvidos:
• Em setembro de 2025, o TCE-AM (Tribunal de Contas do Estado do Amazonas) abriu investigação contra a gestão municipal por supostos irregularidades nos gastos do programa “Sou Manaus”. 
• O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) instaurou inquérito civil contra a ex-secretária de Educação e irmã do prefeito, Dulce Almeida, para apurar se ela autorizou transferências irregulares de recursos do Fundeb para o fundo de custeio do plano de saúde dos servidores (Manausmed). O valor investigado é de R$ 41,8 milhões. 
• Também pesa sobre Dulce, e por extensão sobre Almeida, investigação por uso de escolas em período eleitoral para fins de campanha, aberta pelo MP-AM. 
• Em 2024, reportagem do UOL e de outros veículos apontou que uma investigação da Polícia Federal mira David e Dulce por suposto recebimento de propina de R$ 100 mil em favor de empresa vencedora de licitação (Tumpex). A denúncia envolve fragmentos de escutas telefônicas. 
A soma desses procedimentos — controle externo, Ministério Público e Polícia Federal — eleva a percepção de risco legal sobre a administração Almeida. Se confirmadas irregularidades, poderão gerar consequências jurídicas e políticas de longo prazo.
Conflitos familiares e desgaste interno
Mais do que desafios institucionais, há indícios claros de que tensões familiares contribuem para o desgaste do ambiente político do prefeito. A relação entre David Almeida e sua irmã Dulce Almeida teria se fragilizado, especialmente depois das investigações que recaem sobre sua atuação à frente da Secretaria de Educação. 
Em 2025, Dulce chegou a compartilhar em redes sociais denúncias contra a primeira-dama, Izabelle Fontenelle, levantando suspeitas de uma divisão no núcleo de poder familiar. 
Também já foi noticiado que um braço direito de Dulce, responsável pela merenda escolar na Semed, aparece entre alvos de operações da Polícia Federal. 
Esses episódios deixam entrever que o desgaste não é apenas público, mas atravessa o núcleo íntimo do poder, dificultando a articulação política e a gestão interna.
Saúde, estresse e política: a sobrecarga humana por trás do poder
Num contexto tão adverso, não é difícil vislumbrar o impacto físico e psicológico sobre quem está no centro da tempestade. As exigências de responder a inquéritos, manter governabilidade, enfrentar críticas intensa e administrar conflitos pessoais formam um cocktail de tensão constante.
O episódio recente de atendimento hospitalar serve como alerta: pessoas nos bastidores afirmam que Almeida enfrentava noites sem dormir e excesso de preocupação com o futuro da gestão. Já para muitos analistas políticos, esse momento representa o maior teste de sua carreira pública.
Desfecho incerto: riscos eleitorais e desgaste da base aliada
Em enclaves políticos como Manaus, o desgaste institucional pode reverberar além do mandato. Se as investigações evoluírem, Almeida corre o risco de ver seus aliados se distanciarem, ter sua base corroída e sofrer sanções judiciais tudo ao mesmo tempo em que sua imagem pública se esfarela.
Para 2026, o cenário é igualmente nebuloso: se mantida a tendência de rejeição e sem respostas convincentes aos seus escândalos, o prefeito pode enfrentar oposição fortalecido e dificuldade para compor alianças. A costura política, até então, exigirá mais do que retórica: demanda articulação sólida, transparência e uma recuperação de credibilidade.
