Zona Azul em Manaus: População paga, concessionária lucra e Prefeitura silencia

Tarifa cheia volta em agosto, população paga mais caro e Prefeitura segue em silêncio sobre contratos e lucros

O sistema de estacionamento rotativo Zona Azul, implantado pela Prefeitura de Manaus com a promessa de organizar o trânsito e facilitar a mobilidade no centro da cidade, está novamente no centro de uma polêmica. A partir de 1º de agosto, a tarifa do serviço voltará ao valor integral de R$ 3,98, encerrando o desconto de R$ 0,48 que havia sido concedido desde 2022.

A mudança, determinada pela Justiça a pedido da concessionária, reacende questionamentos sobre a transparência do contrato, a distribuição de lucros e os reais beneficiários do sistema.

Como funciona o Zona Azul?

O Zona Azul é operado por meio de concessão pública, na qual uma empresa privada explora financeiramente as vagas públicas de estacionamento em áreas estratégicas da cidade. O serviço é regulamentado pela Prefeitura, que define tarifas, regras e percentual de repasse.

A empresa responsável fica com a maior parte da arrecadação, mas há uma cota de repasse à Prefeitura, cujos valores não são divulgados regularmente ao público.

Quem lucra com isso?

Desde a implantação, a Zona Azul tem se mostrado uma mina de ouro para a concessionária. Em média, milhares de veículos utilizam as vagas todos os dias. Se apenas 10 mil veículos estacionarem por dia, com a tarifa de R$ 3,98, a arrecadação diária pode ultrapassar R$ 39 mil o que equivale a mais de R$ 1,1 milhão por mês.

O que a população ainda não sabe com clareza é:

• Qual o percentual exato do lucro que vai para a Prefeitura?

• Quanto a empresa já faturou desde o início do contrato?

• Houve licitação pública regular ou há indícios de favorecimento?

• Onde está sendo investido o dinheiro arrecadado?

A falta de transparência dessas informações, mesmo após requerimentos da imprensa e de vereadores da oposição, alimenta a desconfiança popular.

Impacto social e exclusão urbana

O reajuste, embora tecnicamente “autorizado” desde 2022, foi imposto judicialmente a pedido da própria empresa, sem consulta pública ou diálogo com a sociedade civil. Isso mostra mais uma vez como os interesses privados estão sobrepondo-se ao direito coletivo de mobilidade.

Diversos trabalhadores que atuam no centro de Manaus como ambulantes, motoristas de aplicativo e prestadores de serviço denunciam que o sistema se transformou em um mecanismo de exclusão, obrigando muitos a evitar áreas centrais por conta dos custos crescentes. O que era para ser solução de mobilidade virou mais um problema social.

Falta de fiscalização e denúncias de abusos

Há denúncias de:

• Cobranças indevidas e multas irregulares.

• Ausência de agentes nas ruas para orientar os motoristas.

• Aplicativo com falhas e comissionamento obscuro.

• Ampliação de áreas sem estudos técnicos nem aprovação popular.

Muitos motoristas relatam que são surpreendidos com notificações mesmo estacionando por minutos gerando desconfiança sobre metas de arrecadação.

Concessionária sob suspeita?

Há indícios de que a empresa concessionária do Zona Azul tem vínculos com figuras políticas locais e já participou de outros contratos públicos controversos. Investigações mais profundas devem avaliar:

• Se houve lobby político na renovação do contrato.

• Se existe sócio oculto ligado à gestão municipal.

• Se o reajuste tarifário faz parte de uma estratégia para aumentar o lucro da empresa em período eleitoral, o que não é raro no Brasil.

Prefeitura de Manaus: silêncio e omissão

Até o momento, a Prefeitura de Manaus não se pronunciou oficialmente sobre o reajuste. Tampouco divulgou:

• Relatórios de arrecadação;

• Auditorias independentes do sistema;

• Projeções de investimentos com o valor arrecadado.

A omissão só reforça a percepção pública de que a gestão se beneficia do sistema ou fecha os olhos para os abusos cometidos em nome do lucro.

O caso do Zona Azul é mais do que um simples reajuste de tarifa. É um símbolo do uso do espaço público para beneficiar poucos, enquanto a população paga caro para circular por sua própria cidade. O modelo, da forma como é aplicado, gera exclusão, injustiça e lucros obscuros.

Cabe agora aos órgãos de controle como o Ministério Público, o TCE-AM e a Câmara Municipal de Manaus se debruçarem sobre o contrato, exigirem transparência total da arrecadação e investigar eventuais crimes contra o patrimônio público.