Vitória polêmica do Garantido acende alerta sobre a credibilidade do Festival de Parintins

Parintins AM – O que era para ser apenas uma celebração da cultura popular amazônica acabou mergulhado em protestos, acusações e desconfiança. A vitória do Boi Garantido no 58º Festival Folclórico de Parintins, ocorrida neste domingo (30), gerou forte repercussão e levantou questionamentos sobre a lisura do julgamento e a transparência da competição. O resultado foi contestado de forma veemente pelo Boi Caprichoso, que abandonou a apuração e já anunciou que irá recorrer à Justiça.

Com o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”, o Garantido conquistou seu 33º título, vencendo por uma margem mínima de 0,5 ponto (1.259,1 contra 1.258,6). A diferença apertada, somada à suspeita sobre a atuação de alguns jurados, tornou o resultado ainda mais controverso. O presidente do Caprichoso, Rossy Amoedo, não aceitou a apuração e classificou o processo como “injusto” e “vergonhoso”. A atitude de deixar a sala no momento da leitura das notas foi um ato inédito, que expôs publicamente a crise de confiança entre os bois e a organização do festival.

Jurados contestados e impugnações prévias

As tensões começaram antes mesmo da primeira batida do tambor. Ambos os bois questionaram nomes da comissão de jurados. O Caprichoso apontou supostos vínculos pessoais de jurados com membros do Garantido, e o Garantido também protocolou impugnações. Em um festival que movimenta milhões em patrocínio, turismo e repercussão midiática, a presença de jurados com histórico polêmico ou afinidades suspeitas deveria ser inadmissível.

Segundo relatos da imprensa local, pelo menos dois jurados tinham histórico de denúncias em edições passadas e já foram alvos de contestações formais. Ainda assim, foram mantidos pela organização, o que levanta dúvidas sobre o critério de seleção e a real imparcialidade do corpo técnico.

Falta de transparência institucional

Em vez de preservar o espetáculo e a cultura local, a organização do Festival de Parintins optou por minimizar as denúncias e empurrar os problemas para debaixo do tapete. Não houve coletiva da comissão organizadora para esclarecer os critérios, tampouco foram apresentadas justificativas públicas sobre a escolha dos jurados impugnados.

Se o Caprichoso errou ao abandonar a apuração, a omissão da organização foi ainda mais grave. O silêncio institucional só aumentou o descrédito de parte da população e inflamou torcedores nas redes sociais. O que deveria ser uma celebração virou uma batalha de bastidores, e isso desgasta a imagem de um dos maiores eventos culturais do Brasil.

Um sistema que precisa mudar

A reação do presidente do Garantido, Fred Góes, após a vitória sugerindo uma possível reformulação do regulamento evidencia que nem mesmo o lado vencedor considera o atual sistema de julgamento confiável. É necessário que o Festival de Parintins passe por uma profunda reestruturação administrativa, com regras claras, seleção pública de jurados com histórico ilibado, transmissão transparente das avaliações e espaço para recursos formais.

Enquanto isso não ocorrer, o festival seguirá exposto a desconfianças, suspeitas de favorecimento e à perda de credibilidade. E isso é um risco grave não só para Garantido ou Caprichoso, mas para todo o patrimônio cultural da Amazônia.

O 58º Festival de Parintins não terminou no Bumbódromo. A disputa agora é pela verdade, pela transparência e pela confiança do público. E, nesta arena, o vencedor ainda está indefinido.