Lá no interior onde nasci, no rio Juruá, tinha um seringueiro, nosso vizinho, chamado Chico Laureano; ele era um soldado da borracha vindo do Maranhão, analfabeto, mas adorava fazer “tiradas”. Lembro de uma que tem muito a ver com a ascensão e queda de políticos e governos: “tudo acaba um dia”.
Ele disse a mim: “Zé, você está vendo aquela samaúma ali na beira do barranco? Ela é a maior árvore da floresta, mas vai morrer em breve.” Não deu outra: em um dia de muita chuva e temporal, o barranco quebrou (fenômeno das terras caídas) e arrastou a enorme árvore para o fundo do leito do rio Juruá. A outrora poderosa e sobranceira samaumeira, agora morta, iria apodrecer nas águas barrentas do Juruá.
Acompanhando ao longo da minha vida os políticos, verifiquei a semelhança com aquela frase do Chico Laureano. Político também nasce, atinge o apogeu e, um dia, desaparece. Via de regra, têm sido os desacertos na economia os algozes de muitos políticos no Brasil e no exterior; a economia descontrolada atinge o bolso do povo, que passa a não mais confiar no governante. Demagogia, insegurança e desconfiança também figuram entre as causas.
A partir de janeiro deste ano, o presidente Lula e seu grupo político estão na condição daquela samaúma: na beira do barranco, com um forte temporal se aproximando rapidamente. A situação política do país está passando por um momento desafiador. O presidente da República enfrenta uma crise de credibilidade crescente, com uma avaliação positiva abaixo da crítica. Não só ele, mas também as políticas públicas do seu governo estão em queda na avaliação do povo brasileiro. Esses fatos estão presentes nas pesquisas de todos os institutos credenciados (em todos, há queda de popularidade).
Em relação ao presidente, a queda em sua popularidade é um sinal de que as causas são mais profundas e estruturais, e não simplesmente de uma falta de boa comunicação do governo. São questões que atingem a população, como:
1. Economia;
2. Segurança;
3. Corrupção;
4. Falta de transparência, dentre outros.
A política de gastos excessivos e o descontrole das contas públicas atingiram a economia brasileira como um aríete (embora o governo tenha tido sucessivos recordes de arrecadação). O crescimento descontrolado do crime organizado, não só nas capitais, mas em todos os municípios brasileiros, contribui de forma clara para a desconfiança no governo, sobretudo por sua inércia (salvo algumas ações da Polícia Federal) no combate às organizações criminosas. A corrupção e a falta de combate por parte do governo também são fatores que estão contribuindo para esse “pôr do sol” do governo atual.
Para estancar essa sangria, são muitos os desafios que o governo terá de enfrentar, e isso em um espaço bem curto, pois, em muito breve, o povo vai às urnas para decidir quem irá ocupar o Palácio do Alvorada.
1. Encontrar uma fórmula mágica para recuperar a confiança do povo. Precisa de medidas concretas;
2. Implementação urgente de medidas eficazes para estimular o crescimento econômico e reduzir as desigualdades;
3. Devolver o poder de compra da população, baixando a inflação;
4. Combater de forma firme a corrupção;
5. Dar mais transparência às ações do governo.
Se não forem adotadas medidas eficientes, afinal, ainda está viva na memória do brasileiro: a crise do Pix, a inflação sem controle, o desequilíbrio fiscal, o crescimento exacerbado da criminalidade, a falta de base política no Congresso (o que torna o governo refém dos parlamentares), os escândalos na execução das emendas parlamentares (com o governo ficando quieto, como se o problema não fosse dele), e a colocação sob sigilo de 100 anos dos gastos com o cartão corporativo do presidente. Não haverá tempo para controlar essa sangria.
Manaus, 03 de abril de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazonas