O vereador Rodrigo Guedes utilizou um termo transfóbico para tentar atacar a imprensa durante discurso na Câmara Municipal de Manaus (CMM), nesta terça-feira (2). “Vil, sórdida e podre que pode existir, que ainda é travestida de jornalismo, travestida de verdade”, disse Guedes.

Ao classificar como “vil, sórdida e podre” a imprensa que informa os bastidores políticos, os escândalos, inclusive dele, Guedes citou “travestida”, uma colocação antiquada e ofensiva à Comunidade T, de Trans e Travestis, uma das que mais são assassinadas no Brasil todos os anos. 

Assista:

Controverso, Rodrigo se diz defensor das minorias, sendo um dos vereadores que interpelou contra a Prefeitura de Manaus, um requerimento questionando o motivo do cancelamento da participação do Município no Casamento LGBTQIAPN+, promovido pela OAB/AM. 

Segundo fontes da Comunidade LGBTQIAP+ consultadas pelo O ABUTRE, é incoerente atribuir a origem da palavra ‘travestido’ ao contexto utilizado pelo vereador. ”A afirmação é um erro etimológico que deve ter sua disseminação evitada para não enfraquecer a luta contra a LGBT-fobia”.

“Travestido” é semelhante a “Denegrir”, que são termos antiquados, considerando que ‘travestido’ está de algum modo fazendo alusão a ‘travesti’, ainda que o contexto da mensagem não favoreça esse sentido. Imagine, por exemplo, que, um jornal noticia que, num assalto, apareceram bandidos travestidos de policiais. Não há motivo lógico para vincular o ocorrido a travestis. 

No entanto, Guedes deixou a clareza de lado e repetiu por duas vezes a ofensa e ainda sem ser jornalista, deu um pitaco sobre o que acredita ser jornalismo de “verdade”. “A gente não está falando daqueles comunicadores que são essenciais, que são portais sérios, que fazem jornalismo, mas daquele lodo da comunicação do Amazonas”. 

O lodo do qual Guedes cita, fala por exemplo, da viagem feita por ele durante o fim de semana em que Manaus foi arrasada pelas fortes chuvas, enquanto o parlamentar curtia um festival de música. Jornalismo não foi feito para elogiar parlamentares, mas sim, prestar serviço social à população, que naquele momento precisava muito mais do que um post de solidariedade. 

Assim como Rodrigo Guedes, figura pública, com mandato eletivo, escolhido pelo povo em eleição que o próprio se submeteu à vontade das urnas. Este sim deve prestar contas dos atos dentro e fora do poder legislativo e não deve de forma alguma, tentar cercear o direito à publicidade de fatos e atos que o envolvem. 

Além, disso, ao tentar descredibilizar portais que diariamente empregam – direta e indiretamente – várias famílias manauaras só por não concordar com o conteúdo de suas publicações, Guedes demonstra que não sabe tratar opositores, o contraditório e a própria população.

Crime

Caso seja denunciado, Guedes pode responder criminalmente pelo crime de transfobia, que em 2019, foi equiparado aos crimes como Racismo. Na decisão, o STF definiu como crime condutas que “envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém”.  A pena pode ir de um a três anos de prisão, além de multa. E pode chegar a até cinco anos de reclusão se houver divulgação ampla do ato.