A Polícia Civil do Amazonas investiga a existência de um esquema que cobra dinheiro para emitir cédula de identidade em Manaus. A apuração foi iniciada na terça-feira (18) após uma mulher de 27 anos, identificada como Fernanda, confessar que atuava para facilitar a emissão de documentos com ajuda de funcionários do Instituto de Identificação do Amazonas.

A polícia chegou até Fernanda através de Camile, de 20 anos, e da madrasta dela, Risonielen, de 30 anos, que foram presas por tentar obter RG usando certidão de nascimento falsa no PAC do bairro Parque 10, na zona centro-sul de Manaus.

Risonielen disse à polícia que Fernanda era a responsável pela facilitação na emissão do documento de identificação.Camile e Risonielen foram presas em flagrante após uma funcionária do PAC Parque 10 suspeitar de que a certidão de nascimento que elas portavam era falsa e acionar a polícia.

Os policiais civis que atenderam à ocorrência afirmaram que, ao chegar no local, questionaram a jovem sobre o documento e ela respondeu, de “maneira nervosa”, que pertencia a ela.

A madrasta de Camile apontou Fernanda como responsável pela facilitação na emissão de documentos. Ela disse que a conheceu através de um repórter que “colocou uma publicação no seu Facebook dizendo que quem quisesse tirar identidade era para lhe procurar”.

Ao entrar em contato com Fernanda, Risonielen foi informada que a emissão de cada RG custava R$ 150.Sobre a certidão de nascimento, a defesa de Camile disse que o ex-companheiro dela havia conseguido “agilizar” a emissão do documento dela e da filha delas na Maternidade Balbina Mestrinho, na zona sul de Manaus. Alegou, ainda, que a mulher “em nenhum momento [..] tinha conhecimento que se tratava de um documento falso”.

Denúncia

Fernanda disse à polícia que existe um esquema de emissão de carteira de identidade no Instituto de Identificação do estado. Segundo ela, uma quarta mulher, identificada como Adla, que trabalha no órgão, é responsável pela emissão das carteiras e usa a casa dela (Fernanda) como local de encontro para coleta de dados, como impressão digital, para a confecção dos documentos.

A mulher de 27 anos disse, ainda, que em dias e horários marcados, Adla leva as cédulas de identidade em branco e realiza as coletas das impressões digitais de pessoas que buscam pelos serviços. Ela revelou que a dupla cobra R$ 150 por RG. Desse valor, ela fica com R$ 50 e o restante (R$ 100) fica com Adla. Segundo ela, 35 documentos já foram confeccionados dessa forma.

Questionada se conhecia Camile, Fernanda disse que a jovem a tinha procurado para emitir carteira de identidade, mas que não havia conseguiu atendê-la porque se tratava de primeira via, serviço que é prestado apenas nos PACs.

Segundo ela, Adla orientou a jovem a procurar, no PAC Parque 10, um homem chamado Patrick, que já a estava aguardando.Fernanda disse que Camile chegou a pagar R$ 50 pelos serviços e prometeu pagar o restante (R$ 100) na entrega do documento. “”Camile chegou a pagar a quantia de R$ 50,00 (cinquenta reais), para o PIX da declarante (chave aleatória) e posteriormente pagaria o restante (R$ 100,00 – cem reais)”, diz trecho do termo de declaração de Fernanda.A mulher de 27 anos afirmou que tem um caderno em casa onde consta os nomes de todas as pessoas que tiveram seus documentos de identificação emitidos por Adla.

As anotações, segundo Fernanda, eram feitas para que ela tivesse controle dos valores arrecadados com a confecção dos documentos de identificação.Fernanda também declarou que na casa dela tem circuito de câmeras onde foram registradas as imagens de Adla e das pessoas que estiveram no local para tirar o documento. Ela se comprometeu a entregar o caderno de anotações e o DVR onde são registradas as imagens das câmeras instaladas na casa dela.

Os policiais prenderam as duas em flagrante pelo crime de uso de documento falso. No entanto, na audiência de custódia realizada na quarta-feira (19), o juiz Saulo Goes Pinto substituiu a prisão por duas restrições: comparecimento mensal em juízo para informar e justificar atividades; e proibição de ausentar-se da Comarca de Manaus.

*A reportagem usou apenas os prenomes das pessoas porque a investigação ainda está no início e o jornal optou por não expor as pessoas que podem ser inocentadas no futuro.

Fonte: Amazonas Atual