
Famílias relatam interrupções forçadas no fornecimento de água, falta de diálogo e omissão de direitos básicos. “Estamos sendo tratados como criminosos”, dizem moradores
Manacapuru (AM) – Moradores da Comunidade Santa Maria, zona rural de Manacapuru, denunciam ações arbitrárias por parte do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município. Segundo relatos de comunitários, o órgão tem realizado cortes no abastecimento de água sem aviso prévio, deixando dezenas de famílias sem acesso a um serviço essencial e constitucional.
Os comunitários afirmam que, além da suspensão abrupta das ligações de água, servidores do SAAE estariam agindo com truculência e desrespeito, caracterizando possível abuso de autoridade. “Eles chegaram mandando cortar tudo. Não quiseram ouvir ninguém, não apresentaram documento, só ameaçaram e cortaram. Estamos sendo tratados como criminosos dentro das nossas próprias casas”, denunciou um morador, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
Falta de transparência e ausência de diálogo
Segundo os relatos, muitos dos moradores estão em situação de regularização ou aguardando respostas a pedidos formais ao SAAE. No entanto, mesmo nessas condições, o fornecimento tem sido interrompido indiscriminadamente.
“Pedimos diálogo, pedimos respeito. Pagamos impostos, temos filhos, idosos, pessoas doentes que dependem dessa água. E o SAAE só aparece para cortar”, afirma dona Lúcia Menezes, moradora da comunidade há mais de 20 anos.

Direito básico negligenciado
A situação na comunidade acende um alerta para uma violação grave: o acesso à água potável é reconhecido como um direito humano fundamental pelas Nações Unidas e garantido pela Constituição Federal como parte dos direitos à saúde e à dignidade. A atuação do SAAE, da forma como é descrita pelos moradores, pode configurar não apenas má gestão, mas também abuso de poder.
Comissão de moradores cobra providências
Diante da situação, uma comissão de moradores está se organizando para formalizar denúncias ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) e à Defensoria Pública, além de acionar a Câmara Municipal de Manacapuru. Eles pedem a apuração imediata das ações do SAAE, a suspensão dos cortes e a retomada do fornecimento até que uma solução justa e transparente seja apresentada.
“Queremos ser ouvidos. Queremos uma audiência pública. Não estamos nos negando a pagar ou regularizar — queremos apenas respeito”, reforça a comissão em nota.
SAAE responde e nega abuso
Procurado pela reportagem, a presidente do SAAE afirmou que a comunidade de Santa Maria é, sim, atendida regularmente pela autarquia, e que toda a área — com exceção de uma rua — está devidamente cadastrada no sistema de abastecimento. Segundo ela, a via excluída do sistema está localizada em um terreno que pertence a herdeiros em disputa judicial, o que inviabilizaria o fornecimento legal de serviços públicos naquela área.
“Há dois poços artesianos ativos, um de 120 metros e outro de 80 metros, que abastecem a comunidade. Toda área regular está cadastrada no sistema. O que existe é um trecho em terra de herança, com conflitos de propriedade que impedem o fornecimento direto pelo SAAE”, afirmou a presidente a senhora, Maysa Pinheiro Monteiro.
Diretora Presidente do SAAE de Manacapuru
A autarquia também informou que realizou campanhas educativas e de conscientização sobre a importância da regularização e do pagamento dos serviços prestados, com ampla divulgação na comunidade.
Ainda segundo a presidente Maíza , o episódio teria motivações políticas. Ele alega que moradores ligados a uma chapa derrotada na última eleição da presidência da associação comunitária estariam usando a situação para atacar a imagem do SAAE. “É politicagem. Tentaram assumir a liderança local, perderam a eleição e agora tentam criar um fato político em cima do trabalho técnico da nossa equipe”, concluiu.


