
Os deputados federias da Bancada Amazonense na Câmara Federal gastaram apenas nesse semestre, algo em torno de R$ 1.787.104,52 (um milhão, setecentos e oitenta e sete mil, cento e quatro reais e cinquenta e dois centavos) da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), mais conhecido como “Cotão”.
Entre os deputados que mais gastaram o Cotão, está Sidney Leite (PSD), que foi o recordista de gastos com R$ 289.847.90 (duzentos e oitenta e nove mil, oitocentos e quarenta e sete reais e noventa centavos).
Desse valor segundo o Portal da Transparência da Câmara, Leite gastou R$ 136,5 mil, para a divulgação de sua atividade parlamentar, ou seja, com propaganda.
O segundo que mais gastou o cotão, está o deputado Pauderney Avelino (UB), com R$ 276.924,90 (duzentos e setenta e seis mil, novecentos e vinte e quatro reais e noventa centavos) do Cotão, sendo que R$ 85.235,68 foram gastos com propaganda.
O terceiro lugar de deputados mais gastadores está o filho do prefeito de Coari Adail Filho (Republicanos), que rendeu aos cofre públicos o total de R$ 275.648,48 (duzentos e setenta e cinco mil, seiscentos e quarenta e oito reais e quarenta e oito centavos), sendo pago cerca de R$ 190 mil apenas em propaganda para promoção de sua imagem.
Cada parlamentar tem o valor de R$ 49.363,92 (quarenta e nove mil, trezentos e sessenta e três reais e noventa e dois centavos), para gastar por mês de Cotão. Ao encerrar junho, cada deputado teve R$ 296.183,52 (duzentos e noventa e seis mil, cento e oitenta e três reais e cinquenta e dois centavos) para gastar do Cotão.
Acusações contra Sidney Leite
O deputado federal Sidney Leite (PSD-AM), um dos nomes de destaque da bancada amazonense no Congresso Nacional, tem uma trajetória política marcada por episódios graves e controversos que ainda ecoam no cenário político do estado. Denúncias por corrupção eleitoral, uma prisão pela Polícia Federal em 2010, e uma acusação de estupro de vulnerável registrada em 2004 compõem o histórico sombrio do parlamentar.
Apesar da visibilidade e influência que conquistou no meio político — especialmente após sua eleição como deputado federal —, os processos e acusações envolvendo Leite levantam sérias dúvidas sobre a responsabilização de figuras públicas no sistema judicial brasileiro.
Corrupção eleitoral nas eleições de 2004
O primeiro episódio relevante remonta às eleições de 2004, quando Sidney Leite era prefeito de Maués (AM). Naquele pleito, o Ministério Público Eleitoral moveu ação contra ele por corrupção eleitoral, acusando-o de práticas ilegais como compra de votos e uso da máquina pública para fins eleitorais.
A ação foi registrada no TRE-AM sob o número 0000123-95.2011.6.04.0000, mas, segundo o próprio deputado, o processo foi suspenso (sobrestado) por determinação judicial devido à ausência de citação de uma das rés, que nunca foi localizada. Na prática, o processo permanece paralisado há mais de uma década, gerando suspeitas de prescrição e falta de interesse institucional em sua resolução.
Prisão pela Polícia Federal em 2010
Outro episódio impactante ocorreu em 03 de Outubro de 2010, quando Sidney Leite foi preso pela Polícia Federal no Aeroporto do Tarumã, em Manaus, em meio a uma operação que investigava fraudes e desvio de recursos públicos e transporte de eleitores caso inédito na época. Fontes apontam que a prisão foi temporária e que ele foi liberado após prestar depoimentos, mas os detalhes da investigação nunca foram completamente divulgados.
Na época, a PF investigava indícios de irregularidades em contratos públicos e uso indevido de verbas federais, em convênios firmados entre a prefeitura e órgãos da União. Embora Leite nunca tenha sido condenado por esse caso, a prisão manchou sua imagem política, mas não impediu sua reeleição em cargos públicos nos anos seguintes.
Na mesma operação, a sobrinha do candidato a deputado estadual, Carla Leite, foi presa em Maués, acusada de compra de votos. Ambos foram encaminhados para prestar depoimento e os casos ficaram sob análise da Justiça Eleitoral. Mesmo com o escândalo, Sidney obteve expressiva votação nas eleições e seguiu politicamente ativo.
Denúncia por estupro de vulnerável e tortura psicológica
A acusação mais grave, porém, envolve a denúncia de estupro de uma menina de 12 anos, supostamente cometida por Sidney Leite em 2004, também durante seu mandato como prefeito de Maués. A denúncia foi apresentada em 2016 pelo Ministério Público Estadual e incluía ainda tortura psicológica, tanto contra a vítima quanto contra sua irmã.
Segundo a promotoria, Leite teria atraído a menina sob pretexto de ajudar sua mãe doente, e cometido o abuso a bordo de uma embarcação. Posteriormente, assessores do então prefeito teriam coagido as jovens a gravarem vídeos desmentindo os fatos, sob ameaça à vida da mãe delas.
O processo segue em segredo de Justiça no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), e tem enfrentado tentativas de remoção de conteúdo jornalístico por parte do deputado, que obteve decisões favoráveis para retirada de matérias que tratavam do tema. A denúncia, no entanto, permanece ativa, e em 2024 houve o sumiço de uma das testemunhas do caso, o que aumentou as suspeitas de intimidação e impunidade.
Conclusão: uma trajetória de poder e controvérsias
Apesar de todas as acusações, Sidney Leite continua exercendo mandato como deputado federal e integrando comissões na Câmara. Suas ações parlamentares abordam temas como desenvolvimento regional, educação e políticas públicas para a infância — o que muitos críticos veem como uma ironia diante das acusações que enfrenta.
O histórico do deputado evidencia lacunas graves no sistema de Justiça, onde processos envolvendo agentes públicos poderosos são paralisados, abafados ou caem no esquecimento. Em tempos de maior escrutínio social e exigência de ética pública, a trajetória de Sidney Leite é um retrato do que ainda precisa ser enfrentado para que a política brasileira supere a impunidade.
Nota da redação:
O deputado Sidney Leite foi procurado para apresentar sua versão dos fatos, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações futuras.


