
A Câmara Municipal de Manaus, que deveria ser um dos principais pilares da democracia local, vem sendo sistematicamente desvirtuada de sua verdadeira função: fiscalizar o Poder Executivo e legislar em favor do povo. Na prática, a Casa Legislativa tem atuado como uma extensão do gabinete do prefeito David Almeida (Avante) e do seu secretário de obras, Renato Júnior (Avante), servindo mais aos interesses do Executivo do que ao cidadão manauara.
Em vez de agirem como representantes independentes da população, muitos vereadores da capital têm se comportado como verdadeiros cabos eleitorais do prefeito, defendendo suas ações sem o mínimo de questionamento, mesmo diante de denúncias graves de superfaturamento, contratos suspeitos e abandono de obras públicas. É como se a CMM tivesse sido transformada numa espécie de “subprefeitura legislativa”, onde o papel de fiscalizador foi trocado por cargos comissionados e benefícios políticos.
Silêncio e conveniência
Basta uma análise superficial das sessões plenárias para constatar a submissão. As pautas da Prefeitura passam com facilidade, raramente enfrentando oposição ou questionamento técnico. Quando surgem denúncias, como as ligadas ao programa Asfalta Manaus ou aos contratos milionários da Secretaria de Infraestrutura, o comportamento dos vereadores é o mesmo: silêncio, desvio de foco e, muitas vezes, ataques à imprensa ou aos opositores.
Não por acaso, poucos têm coragem de peitar o prefeito ou cobrar explicações públicas de secretários como Renato Júnior, conhecido por seu protagonismo na atual gestão. A blindagem é total – e, para muitos, isso cheira à velha política do toma-lá-dá-cá.
O preço da omissão
Essa omissão legislativa tem um custo alto para Manaus. A cidade enfrenta problemas crônicos na saúde, no transporte, na educação e na infraestrutura, enquanto a Câmara permanece inerte. A ausência de um verdadeiro sistema de freios e contrapesos compromete a transparência, fragiliza a democracia e afasta o cidadão da política, alimentando a descrença nas instituições.
Em um momento em que a população clama por ética, responsabilidade e coragem dos seus representantes, o que se vê é um Parlamento enfraquecido, que trocou sua autonomia por conveniências políticas e alianças de bastidores.
A quem serve a Câmara?
A pergunta que ecoa é simples, mas essencial: a quem serve a Câmara Municipal de Manaus? Ao povo que a elegeu, ou ao projeto político de David Almeida e seus aliados?
Enquanto a resposta não for clara e alinhada com os interesses da população, a cidade continuará refém de um modelo político ultrapassado, onde o Legislativo se ajoelha diante do Executivo – e a democracia perde.


