Durante toda a nossa história, o Brasil sempre foi um país que privilegiou o Sul e o Sudeste.
No Nordeste, somente a partir dos anos 60, com a ascensão ao Planalto de alguns de seus filhos (Castelo Branco, Antônio Carlos Magalhães, José Sarney e outros), o pão também começou a ser dividido.
E o Norte? É sempre o último a ser ouvido!
Um exemplo recente disso foi a ação do Brasil no socorro ao Rio Grande do Sul, durante as enchentes de abril e maio, comparada à resposta diante da maior enchente e queimadas de toda a história do Amazonas.
Para socorrer os gaúchos — e foi uma atitude absolutamente correta —, o Brasil destinou uma grande estrutura física e financeira.
Primeiro, suspendeu por três anos o pagamento da dívida pública gaúcha com a União (a dívida do Rio Grande do Sul com a União é de R$ 11 bilhões); destinou R$ 4,8 bilhões diretamente aos trabalhadores afetados (dinheiro no bolso); e mais R$ 2,2 bilhões para investir em infraestrutura.
Somando a antecipação de benefícios, linhas de crédito, novos investimentos e outros valores, o Brasil destinou ao Rio Grande do Sul, no socorro a essa tragédia, R$ 98,7 bilhões, dos quais R$ 42,3 bilhões já foram efetivamente pagos.
Além disso, entidades, pessoas e estados do Sudeste também se mobilizaram para socorrer os gaúchos.
Parabéns, é assim que deve ser mesmo!
Mas, como o Brasil sempre foi o país das desigualdades — sobretudo quando prevalece o poder político e econômico —, quando o Amazonas enfrentou a pior estiagem (vazante) de sua história, com a maior bacia hidrográfica do planeta vendo suas águas sumirem, a economia sendo ceifada, o caboclo amazonense em muitos cantos sem nem mesmo água potável para beber, e até os grandes navios que abastecem o Polo Industrial de Manaus paralisados — essa também uma tragédia sem precedentes —, o Brasil socorreu o Amazonas com:
1. R$ 514 milhões para o combate às queimadas e para mitigar a seca (vazante);
2. R$ 1,2 milhão (um milhão e duzentos mil reais), divididos entre o Amazonas e o Acre, para mitigar os problemas de saúde pública que sempre aparecem após esse fenômeno;
3. Adiantamento e uma bonificação no seguro-defeso (378.800 pescadores).
Por força da pressão da bancada e de entidades de classe (FIEAM, Fecomércio, Fetagri), foram destinados recursos para desobstruir os canais no rio Madeira (entre o município de Humaitá – AM e Porto Velho – RO) e no rio Amazonas (na foz do rio Madeira e na Costa do Tabocal).
Somando tudo isso, o valor não chega nem a R$ 600 milhões! Foram mais de 800 mil pessoas afetadas no Amazonas.
Como sempre, “dois pesos e duas medidas”.
Manaus, 15 de janeiro de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado Amazonas