
Por: Redação
A renovação de um contrato de R$ 18 milhões entre a Prefeitura de Manaus e a empresa Grafisa Gráfica e Editora Ltda., publicada no Diário Oficial do Município em 2 de junho, acendeu um alerta nos bastidores políticos da capital amazonense. Não apenas pelo volume de recursos, mas pelos estreitos laços pessoais entre o prefeito David Almeida (Avante) e o empresário Paulo Montenegro, conhecido como Paulinho Pepeta, figura que, embora não conste formalmente como sócio da empresa, atua como seu principal representante informal e mantém vínculos profundos com a atual gestão municipal.
Uma relação além do contrato
Paulo Montenegro não é apenas um fornecedor da Prefeitura. Ele é padrinho de casamento de David Almeida, frequentador íntimo do seu círculo pessoal e, em 2024, foi responsável pelo fornecimento de material gráfico da campanha de reeleição do prefeito, pela qual recebeu R$ 333 mil.
Em março de 2025, os dois foram flagrados em uma viagem de luxo no Caribe durante o Carnaval. Nas redes sociais, registros da estadia em resort cinco estrelas vieram à tona, enquanto a assessoria oficial da Prefeitura informava que o prefeito se encontrava em “retiro espiritual”. A narrativa caiu por terra quando fotos e vídeos começaram a circular, associando diretamente o chefe do Executivo municipal ao empresário beneficiado por contratos públicos milionários.
Um histórico de irregularidades
A Grafisa é contratada pela Secretaria Municipal de Educação (Semed) para fornecimento de material pedagógico. Desde 2021, já recebeu mais de R$ 98 milhões da Prefeitura de Manaus. Em 2023, a empresa teve uma licitação suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) por indícios de irregularidades.
Além disso, um imóvel pertencente ao grupo Grafisa foi alugado por R$ 6 milhões pela Ageman (Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Manaus), o que mostra que os contratos extrapolam a esfera educacional e atingem outras autarquias controladas por aliados de David Almeida.
Quem são os sócios da Grafisa?
Apesar de Montenegro ser a face pública da empresa, ele não aparece formalmente como sócio. No papel, os proprietários são:
• Amanda Aragão Montenegro Vieitas
• Larissa Vieitas Rodrigues
• Luiz Otávio Montenegro Vieitas
• Smart Holding e Gestão Empresarial Ltda.
A estrutura sugere uma blindagem societária, prática comum em empresas que desejam ocultar o verdadeiro controlador financeiro, o que, em contratos com o poder público, pode configurar fraude à licitação ou ocultação de vínculo com agente político.
Possíveis crimes e irregularidades
Fontes consultadas por esta reportagem apontam para fortes indícios de favorecimento pessoal, tráfico de influência e conflito de interesses. A coincidência temporal entre os contratos públicos, a atuação na campanha eleitoral e a viagem de luxo reforça a necessidade de apuração por órgãos de controle.
O caso pode envolver:
• Improbidade administrativa, conforme a Lei nº 8.429/1992
• Crime de responsabilidade, se configurado o uso do cargo em benefício pessoal
• Fraude à licitação, nos termos da Lei nº 14.133/2021
• Uso indevido de pessoa interposta, para ocultar a verdadeira participação societária
A relação entre David Almeida e Paulo Montenegro vai além da amizade: envolve milhões em contratos públicos, vínculos políticos e sinais claros de favorecimento. O caso merece investigação aprofundada por parte do Ministério Público do Estado do Amazonas, Tribunal de Contas e Câmara Municipal, pois representa risco concreto à moralidade administrativa e ao uso correto dos recursos públicos em Manaus.


