Vazamento da Operação Sangria Incendeia disputa eleitoral e movimenta indústria de fake news


Por: Elson Santos


De forma estranha, uma folha de papel rabiscada que vazou da Operação Sangria, da Polícia Federal, na tarde de sexta-feira (3), expôs oito deputados estaduais que constituem o bloco de parlamentares que apoiam o Governo Wilson Lima na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALEAM). Nas redes sociais, rapidamente o vazamento se espalhou como rastilho de pólvora e, logo, a indústria de fake news da mídia digital buscou comprometer os parlamentares com suposto “mensalinho” concedido a eles pelo governador.
O vazamento, que ainda não foi explicado pela PF, acendeu uma polêmica que já fervilha nas redes devido ao clima pré-eleitoral tanto em relação às eleições municipais de 2020 como em função da batalha sucessória que já agita os bastidores do Poder Legislativo Estadual.
Há quem associe o vazamento da Operação Sangria ao processo sucessório na Aleam e, se for verdade, a guerra de grupos para ver quem gerenciará um orçamento de mais de R$ 200 milhões a partir de janeiro de 2021 pode ter sido deflagrada de modo virulento, em aberta provocação aos órgãos de justiça.
A propósito do vazamento, o governador Wilson Lima distribuiu nota afirmando: “Anotações, divulgadas pela imprensa como parte de uma operação da Polícia Federal, não contêm absolutamente nada que indique quaisquer ilícitos, são anotações avulsas e sem conexão, que nem de longe indicam atos não republicanos. Ao contrário do que possam sugerir as matérias jornalísticas publicadas, não há sequer a menção de valores, pagamentos ou quaisquer benefícios de naturezas diversas”.
Vazamento seletivo
Em seu portal de notícias, o Jornalista Amazonense classificou o papel rabiscado de “vazamento seletivo” que viola a imagem e a honra de pessoas não investigadas no inquérito que resultou na Operação Sangria”.
Mais adiante, o jornalista argumenta: “Se a Operação Sangria encontrou indícios de corrupção, envolvendo parlamentares, então cabia, especialmente ao Ministério Público Federal, abrir um procedimento especial sobre o caso. Tão criminoso quanto se envolver em ilícitos sugeridos com a divulgação da lista é vazar documentos de inquérito no qual o ministro Francisco Falcão, do STJ, determinou acesso limitado ao Ministério Público Federal, CGU e à Polícia Federal”.
Não se acredita que a PF seja responsável pelo vazamento e, justamente por isso, investigar esse fato é um imperativo que precisa ser relevado até que se esclareça tudo a respeito. Ouvidos pelo portal OAbutre, alguns cientistas políticos manifestaram preocupação com o vazamento, salientando que o período pré-eleitoral na capital do Estado pode desencadear situações piores do que as recentes ocorrências. Conforme eles, se não forem coibidas, as milícias digitais, quando iniciar a campanha eleitoral propriamente dita, funcionarão como “verdadeiras máquinas de matar reputações” a serviço de grupos desprovidos de ética.