Proprietários de superiates se isolam no mar aberto com salas médicas e enfermeiros particulares para fugir do Covid-19

Proprietários de superiates se isolam no mar aberto com salas médicas e enfermeiros particulares

Catamarã de apoio de 66 metros do superiate Lorian, Hodor
O sol se punha na costa do Panamá nesta semana, quando o superiate Lonian, de 87 metros, ancorou firmemente ao lado de seu espetacular catamarã de apoio de 66 metros, Hodor. Na carga de Hodor, há um chase boat (barco de suporte), jet skis e quadriciclos. Este iate de assistência também possui seu próprio hospital personalizado com uma enfermeira particular e uma equipe de 20 pessoas para seus donos bilionários.

A maioria dos iates com mais de 90 metros contém enfermarias ou salas médicas seguras, e as agências que fornecem enfermeiros para esses barcos mal conseguem acompanhar o aumento da demanda em meio a pandemia do novo coronavírus. Como os proprietários de iates se encontram praticamente isolados em seus locais afastados, a necessidade de proteção médica a bordo é uma urgência.

Conversei com vários especialistas do setor e eles dizem que diversos superiates estão atualmente se dirigindo ou já estão em locais seguros perto de ilhas particulares, longe das aglomerações de pessoas.
“A Covid-19 impactou fortemente a indústria de iates”, diz Alex Haubrich, da Yachtie World. “Muitos membros da equipe perderam o emprego e estão afastados de casa e da família. Alguns proprietários estão usando suas embarcações para distanciamento social, o que é compreensível, mas outros estão funcionando com metade da tripulação ou menos, o que significa que a demanda pelos membros restantes está aumentando. Muitos tripulantes de iates empregados estão em pânico porque não sabem se o trabalho ou a saúde estão em risco ou não”, diz.


E, com o movimento marítimo agora cada vez mais restrito, muitos iates ficam presos em seus destinos, uma vez que as atracações em águas territoriais, incluindo o Mediterrâneo francês, estão proibidas. Antígua e Barbuda proibiu o tráfego de entrada de embarcações vindas da América do Norte e Europa. As Bahamas e as Ilhas Virgens Americanas restringiram a atividade apenas a serviços essenciais, e a Ilha de São Martinho fechou suas águas a todos os navios estrangeiros, incluindo superiates. Ninguém tem permissão para desembarcar por qualquer motivo.


A agência de enfermeiros para superiates Wilson Halligan diz que a posição de enfermagem atualmente é menos glamourosa do que possa parecer, pois muitas vezes significa que estes profissionais também atuam como comissários de bordo: “Espera-se que eles administrem a ala médica a bordo e as estações de enfermagem. Isso incluiria fazer inventários, registrá-los e pedir de suprimentos. Dependendo da saúde do proprietário do iate, esses profissionais podem ser necessários para determinadas tarefas; caso contrário, permanecem em espera, aguardando a necessidade de atenção médica. Muitas vezes, há dois enfermeiros trabalhando juntos e, às vezes, até um médico de bordo em alguns dos navios muito maiores.”


Embora o colaborador faça parte da equipe interna do iate, muitas vezes realiza tarefas duplas e ajuda na manutenção e serviço, e sua ocupação geralmente dura cinco meses com um mês de folga entre as temporadas. Uma enfermeira de um megaiate (que deseja permanecer anônima) me disse que teve de lidar com um proprietário que apresentou uma súbita lesão traumática, e eles estavam muito longe de qualquer terra para poder chegar a um helicóptero.
O iate em que ela trabalha tem uma máquina de raio-x e uma câmara hiperbárica (equipamento que permite manter a pressão interna constante ou controlada). Ela acabou cuidando do cliente com medicação e terapia intravenosa, enquanto o iate continuava seu curso para chegar à costa a fim de realizar a evacuação médica e posteriormente cirurgia. Todos os profissionais dessa área precisam de um certificado médico ENG1 (exame médico estabelecido internacionalmente, conhecido no Brasil como “exame norueguês”, que visa avaliar se os indivíduos estão aptos para atuar em um navio e realizar tarefas no mar) e a maioria tem pelo menos dois anos de experiência trabalhando como enfermeiro registrado.
O editor do portal “Superyacht Fan” observa que “um vasto número de embarcações totalmente equipadas com salas médicas e hospitais inclui: o Al Salamah, megaiate de 139 metros construído para o falecido príncipe sultão da Arábia Saudita, bin Abdul Aziz Al Saud, (apresenta dois hospitais, um destinado aos proprietários e um para hóspedes); o Al Raya (ex Dilbar), da Lürssen; o Jubilee, de propriedade da família Walton; o Al Riyadh, produzido para uma realeza árabe; e o Turama feito por Rauma Shipyard.


Alguns dos superiates mais famosos, incluindo o Eclipse, de propriedade do bilionário Roman Abramovich, e Rising Sun, do bilionário David Geffen, têm salas médicas com enfermeiras particulares.
Atualmente, esses barcos de grande porte estão usando embarcações de apoio para equipamentos extras e transporte de convidados, além de salas de hospitais aprovadas pela Solas, a convenção internacional de segurança marítima. Entre eles, estão Game Changer, McCarthur Explorer Yacht, Alexander e Intrepid (construído para o bilionário Eric Schmidt a fim de acompanhar seu superiate Infinity).
Há alguns meses, fiz um tour privado pelo espetacular superiate Flying Fox, que tem uma sala médica com uma câmara hiperbárica, além de extenso equipamento de emergência. A embarcação está atualmente ancorada com seus proprietários no Oceano Índico, em uma ilha particular.
Estive a bordo de inúmeros iates, onde spas e salas de tratamento também funcionam como espaços médicos. Muitos estão equipados com tanques de oxigênio, desfibriladores, medicamentos especializados e fluidos intravenosos, enquanto alguns oferecem máquinas de reabilitação para lesões. De acordo com um relatório de Chris Caswell, da Boat International Media, “pela lei marítima, muitos iates precisam oferecer estrutura básica de primeiros socorros, e a maioria dos membros da tripulação também necessitam de preparação para atuar como paramédicos”.


“A maioria dos superiates também usa serviços de telemedicina, que possibilitam monitorar diretamente uma crise de saúde com um médico na sala de emergência”, de acordo com Caswell. “Muitos desses barcos também são equipados com dispositivos de monitoramento para que o profissional de saúde possa ler quaisquer sinais vitais a milhares de quilômetros do iate. Como os médicos costumam ficar na sala de emergência de um hospital, os especialistas também podem ser chamados, se necessário.”
Com o mundo em um estado crítico, os enfermeiros estão entre os nossos maiores heróis e, independentemente de onde estejam atuando, seja em uma ilha do Caribe ou em uma sala de emergência, devemos a eles nossos agradecimentos e apoio

Fonte: Forbes